Psicopatologia e Sofrimento Infantil

Falar e pensar sobre Psicopatologia Infantil sempre é um desafio importante e que deve ser respeitado devido a sua complexidade. Já falei desse tema no Blog, no post Psicopatologia Infantil: entre a saúde e a adaptação, dentre outros que fazem menção ao tema. Entretanto, podemos afirmar que o tema não se esgota.

O que é Psicopatologia hoje?

Como mensurar os sintomas?

Como pensar em doença em um sujeito em desenvolvimento? 

Podemos tomar Psicopatologia e Sofrimento como equivalentes?

Todas essas são questões que frequentemente me fazem repensar o que entendo por Psicopatologia Infantil, especialmente quando trabalhamos com quadros sintomáticos os quais expressam indicam um determinado diagnóstico. Do ponto de vista psicanalítico winnicottiano a psicopatologia é compreendida de uma perspectiva bem específica: alguns quadros entendidos na área da psicologia e da psiquiatria tipicamente como quadros diagnósticos de doença, não o são necessariamente. Isto é, são compreendidos como uma possibilidade de organização e funcionamento do sujeito o qual está em estreita relação com o seu entorno.

A noção de saúde na perspectiva winnicottiana é, para mim, ainda mais interessante: a possibilidade do sujeito construir uma noção única e integrada de self, instalar sua psique no soma, e assim, ter uma experiência de estar vivo e criativo nesse curso.

Para pensar em algumas dessas coisa organizei um Grupo de Estudos A Psicopatologia na Infância: As faces do sofrimento infantil .

Abaixo seguem algumas informações sobre o Grupo, o qual ocorrerá na cidade de Porto Alegre. Confira e entre em contato!

Grupo Bibiana 2016.2

Qual é a sua história? Entre números, diagnósticos e histórias

Há alguns dias atrás, voltei a escutar uma música cuja letra continha as seguintes frases:

“Números, números, números
O que é, o que são
O que dizem sobre você
Números, números, números
O que é, o que são
O que dizem sobre você

Essa não é a sua vida
Essa não é a sua história
Essa não é a sua vida
Essa não é a sua história” (Papas na Língua).

Essa música acabou fazendo para mim uma associação com um tema que venho pensando e discutindo, o diagnóstico infantil (e todos os processos diagnósticos) na área da psicologia e psicanálise. Em certos momentos, ou a partir de certas demandas, verifica-se o que poderíamos chamar de um verdadeiro fetiche pela classificação diagnóstica, como se ela, por si só pudesse “salvar” ou “subtrair” o sofrimento a que o sujeito em questão está enlaçado. Curiosamente, o que poucos se questionam – ou querem se questionar – é o que esse mesmo sofrimento pode dizer sobre a história desse sujeito e o que, por sua vez, pode significar.

A princípio, parece consenso, que pessoa alguma opta ou quer viver em sofrimento. A princípio, isso poderia ser entendido como uma verdade absoluta. Em certa medida – quantitativa ou qualitativa, como medir? – sofrimento frequente, intenso e contínuo não indica condições de saúde e bem-estar. Contudo, execrar esse processo numa tentativa de pura negação dessa vivência pode trazer – e certamente trará – outros tipos de consequências.

Dessa forma, quando pensamos em atribuir um diagnóstico – e vejam bem, não afirmo em momento algum que o diagnóstico seja desnecessário ou uma prática inadequada, pelo contrário – antes dele, e para chegar até ele quando for o caso, é necessário pensar na história desse sujeito e como ela se construiu, para além da quantidade de vezes que um sintoma aparece ou dos miligramas de medicação prescrita, buscando perceber a dinâmica por trás desses números e encontrando um sentido próprio e único. Essa sim é verdadeira a história de cada um: suas vivências, suas dores, suas satisfações, suas limitações e inclui-se nisso tudo, os sofrimentos de cada um como uma parte que integra, não que se nega.