O bebê que brinca só: A ausência e seu poder de criação

 

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(Fonte da Imagem: http://pikler.nl)

Os bebês são sensacionais! Nada de novo nisso!

E um bebê faz muita coisa, mesmo que aparente a um adulto o contrário.  Uma das coisas que os bebês fazem é crescer e se entender como uma pessoa no mundo, isso em geral ocorre através da ação do brincar.

Brincar não é brinquedo. E falo aqui do objeto brinquedo. É bem comum – e hoje é uma demanda intensa – que os pais tentem montar verdadeiros cenários para as crianças/bebês brincarem, quando é na ausência que a brincadeira se constrói e pode alcançar todo o seu potencial.

Não levemos para o outro extremo: ausência no sentido de negligência! Não!

Ausência no sentido de oferecer espaço, tempo, não presença constante e intensa.

Os bebês brincam sozinhos. Brincam consigo. Brincar com a sua roupa; seu bico; com a mão que acabam de descobrir.

Eles brincam com a textura do chão que tocam; e com aquele bonequinho velho e feio que o adulto deixou por lá até descartar.

Além disso, os bebês com o tempo, crescendo, adquirem a condição de prescindir de um adulto o tempo todo ao seu lado: eles vão brincando sozinhos e sonhando com a mãe ou com o pai, com o outro… e quando precisam de um deles _ porque se angustiaram, porque sentem sua falta _ solicitarão e solicitam com veemência. Não deixam margem para dúvida quando querem a presença de alguém.

Mas só solicitam porque sentiram falta.

E aí a presença ganha outro sentido.

Essa falta _ que não é abandono ou coisa do tipo_ promove o que hoje é tão vendido nos brinquedos caros: criatividade.

Se eu não sinto falta de nada, não posso criar. E brincar é criar o tempo todo: criar a si, o mundo, os pais. Cria-se uma cria de gente dentro de si porque não se está sozinho.

Em tempo… tudo isso dito acima dará margem para pensarmos conceitos importantes dentro da Psicologia: Apego, Independência e Autonomia, Constituição de Self, Criatividade e Capacidade de Estar só são alguns deles.

Confira mais sobre o tema no link abaixo:

https://conversadegentemiuda.wordpress.com/2011/08/04/e-brincando-que-a-gente-se-entende/

Para crescer, é preciso perder: Discurso aos meus afilhados e afilhadas Psicologia UNISINOS/2018

É inevitável para mim, desde o convite para ser paraninfa dessa turma, pensar frequentemente na questão: O que mais podemos, posso eu, dizer para essa turma que hoje concretiza um sonho se tornando psicólogos e psicólogas?

O que ainda não foi dito?

Foi então, que em um de nossos encontros tive meu insight, mais precisamente numa aula da disciplina de Intervenção com Crianças e Adolescente, quando alguns de vocês apresentavam seus trabalhos finais da disciplina, na qual me dei por conta que não precisava falar necessariamente de uma novidade hoje, mas sim, falar de algo que constante se renova em todo o curso do nosso desenvolvimento: Para crescer é preciso e necessário dizer adeus!

Irei fazer uma analogia entre a formação e o desenvolvimento de uma criança.Afinal vocês sabem que ministro essa disciplina também!

A universidade gesta um curso, cuida, alimenta, compõem, faz todo o pré-natal para esperar seus rebentos: vocês nascem, bebês! Na mesma proporção que há toda uma potencialidade para crescer e aprender – e sabemos que a mais incrível  condição de aprender está nos recém-nascidos –, há o medo do desconhecido, e a pergunta inevitável se faz: Que vida é essa que me aguarda nesse mundo?

Como bebês, repletos de recursos e tempo, querem e precisam crescer.

Crescemos! Vocês cresceram!

Para tanto, abrimos mão constantemente de coisas que nos são muito preciosas, muito queridas, mas que já não podem, nem precisam ser mantidas: Abrimos mão da segurança do colo materno em prol de andar com as próprias pernas, abrimos mão do que é conhecido, em prol de terras novas e cheias de pessoas que se tornarão como uma nova família para nós;  abrimos mão de um corpo infantil e de onipotências infantis, para ganhar tanto mais, inclusive a maturidade para suportar a dúvida constante que é marcadamente característica da vida de um adulto.

Poder ir frente é tolerar deixar para trás algo. É tempo de delicadeza, e concomitantemente, de firmeza.

Hoje vocês correm! Hoje vocês estão crescidos! Mais precisamente, vocês ESTÃO crescendo!

Não mais bebês, nem mais adolescentes – lembrando daquela crise bem comum no meio do curso, onde as demandas parecem impossíveis de serem vencidas – hoje são nossos / nossas colegas agora. Gente grande!

Paramos de perder então?

Perder é necessário. Ao se perder não se deixa de ganhar, é escolha. Isso que é uma aparente contradição,  é lindo! E cheio de possibilidades!

A Psicologia foi escolhida por vocês – e cada um de vocês certamente escolheu essa profissão por uma razão tão particular que não poderia ser generalizada – e para essa escolha ter sido feita, muitas outras possibilidades foram deixadas de lado: E será que isso foi ruim? Nesse momento, aqui com vocês, olhando vocês, os olhos, os sorrisos, só posso crer que foi uma acertada escolha!

Durante todo esse percurso muitos momentos se tornaram marcos, marcos do crescimento de cada um de vocês, foi necessário escolher o tempo todo: estudar ou descansar? Quais disciplinas em quais horários? Qual estágio fazer e onde fazer? Tcc agora ou no próximo semestre? Quem escolher para me orientar? Estar em casa, ou, estar na universidade? Dormir ou levantar?

Vocês são testemunhas uns dos outros o quanto todas essas escolhas e simultâneas renúncias compuseram cada um de vocês de maneira única e fizeram da jornada de se tornarem psicólogos e psicólogas um desejo possível, e que foi alcançado.

Queremos crescer! Desde que nascemos!

Quando crescemos, paramos de perder? Não, queridos queridas afilhados e afilhadas. E volto a dizer: isso ainda assim é bom!

Inocentemente podemos pensar que quando se cresce, vira gente grande, dizer adeus fica mais fácil, mas não fica. Nunca é. Mas, é tão importante e tão potente: dizer adeus hoje é só um outro começo; um outro momento no qual tantas novidades e possibilidades se apresentarão que se torna irresistível crescer!

Hoje estamos aqui juntos para comemorar um grande crescimento e vocês me deram a honra de apadrinha-los.

Dessa maneira, desejo que como todo adulto, continuem crescendo.

Continuem se questionando! Inquietando-se! Ganhamos muita coisa ao mesmo tempo em que renunciamos outras. Sejam esses colegas que nós todos aqui, como universidade, gestamos e apostamos: pessoas éticas, cuidadosas, afetivas, comprometidas e em permanente movimento!

Então, nesse momento, adeus acadêmicos de Psicologia, e sejam muito bem vindos meus e minhas colegas!

Bem vindos a um novo caminho!

 

 

 

Babies, Documentário

Sabe aquele documentário que você não cansa de assistir? “Babies” (2010) é assim! Já o vi tantas vezes e todas as vezes que o assisto, vejo-o de novo: há sempre uma sensação de algo novo aos olhos e às sensações que as cenas despertam.

O documentário acompanha 4 bebês – Japão, Mongólia, EUA e Namibia – durante seu primeiro ano de vida em diferentes contextos culturais e como o desenvolvimento de cada um deles vai acontecendo. Conheça esses bebês!

 

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Passa Rápido, aproveita! Sério? com L.Slomka

Hoje vou compartilhar aqui um texto que tem tudo a ver com a proposta de escrita do BLOG. Um texto da amiga, colega e talentosa Luciane Slomka cheio de boas reflexões para fazermos! Confere:

 

Pela extinção do “Aproveita porque passa rápido”

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Não são poucas as vezes que ouvimos e até mesmo falamos às pessoas, quando o assunto é maternidade, a máxima “Aproveita! Passa tão rápido…”

Sério, isso ajuda a gente a aproveitar mais? Desde a gravidez essa frase me incomodava. “Será que eu to aproveitando?” “Mas nem sempre é assim tão legal”, “mas o que eu teria que estar fazendo diferente para realmente me sentir APROVEITANDO”?

E a máxima segue ao longo dos primeiros anos da vida da criança. Bebe de colo? “Aí que delicia, aproveita porque passa tão rápido!”, 1-2 aninhos? “Aproveita porque daqui a pouco começam a caminhar e dai acabou o sossego”. Será tão difícil a gente lembrar que aproveitar é um conceito tão subjetivo e individual quanto a própria maternidade ou paternidade? Eu não acho que ajuda ninguém essa sensação de que é preciso aproveitar porque num piscar de olhos aquela fase passa. Pelo contrário, acho que pode gerar angústia e ansiedade. Aliás, talvez esse seja o nosso maior sintoma da tal modernidade: não podemos perder nada, temos que aproveitar tudo, ter tudo, sermos sempre felizes.

Claro que nenhuma máxima torna-se máxima se não for no mínimo algo próximo da realidade. Claro que passa rápido, demais até. Mas o aproveitar é de cada um e cada um aproveita da maneira que pode. Por isso, nunca mais falei “aproveita essa fase” para ninguém.

Bom, vou parar de escrever aqui e APROVEITAR a sesta da minha filha para continuar lendo meu texto.”

Luciane Slomka

Quer dar mais uma espiadinha em textos que falam sobre “filhos” aqui no Blog? Clica nesses links:

Filhos: melhor não tê-los, mas se não os temos, como sabê-lo?

Mães Neuróticas, Filhos Nervosos

Licença Paternidade: “Não basta ´ser pai´, tem que participar”

 
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Saiu uma notícia muito interessante ainda ontem: A licença paternidade pode ser ampliada para até 20 dias. Não é muito, mas vamos combinar que 5 dias é até engraçado!

Lembro exatamente quando ouvi pela primeira vez sobre o assunto, ainda bem no início da faculdade (segundo ou terceiro semestre), ainda muito imatura e cheia de preconcepções pouco refletidas e com vieses complicados. Foi nossa patronesse, na época coordenadora do curso, quem comentava do pouquíssimo tempo para a licença paternidade. Na época não entendi muito bem e ela me explicou, e a partir daí fez outro sentido para mim.

Numa sociedade predominantemente machista, o filho é da mulher, certo? Na prática – e na vida – errado! Licença paternidade não é uma novidade e já é público e notório há mais de século que a figura paterna é absolutamente importante na vida do seu filho. E veja bem, eu falei em FIGURA, não em sexo masculino. Vamos registrar que por FIGURA entende-se uma série de cuidados e de marcas sociais que serão destinadas a esse pequeno que está em constituição.

Em países europeus a licença aos PAIS pode ser distribuída entre os dois, como os mesmos acharem melhor, isto é, é licença para OS PAIS cuidarem dos seus pequenininhos. Não é muito interessante?

Por óbvio que não somos um país europeu, você já deve ter pensando isso. Logo, é compreensível que nós mesmos – brasileiros – tenhamos que ir achando o que funciona para nós como cultura própria que temos e que somos. De qualquer forma, saber que os pais poderão estar mais uns dias próximos dessa gente miudinha e de seus parceiros e parceiras logo após o nascimento (ou adoção) é uma notícia que vale a pena registrar.

 

OBS.: O link da notícia original se encontra acima, na primeira linha.

😉

 

 

Ser criança garante uma infância?

Já faz algum tempo que um documentário chamado “A Invenção da Infância” foi lançado e tinha como uma das perspectivas questionar se infância e ser criança eram conceitos que estavam entrelaçados na prática.

É esperado que você creia que “ser criança” e “infância” sejam sinônimos. Mas não o são.

A fase em que o sujeito é considerado criança diz respeito a um momento específico do desenvolvimento psíquico, físico e social. Já a infância é um período que foi “descoberto” em um dado momento histórico e atribuído a esse momento em que o sujeito é criança. O interessante é que, em alguns momentos, em algumas vidas, esses momentos não coincidem e ser criança não garante ter uma infância.

Na pós-modernidade a infância é um momento exaltado e extremamente protegido, talvez porque nessas crianças se depositem a esperança de um futuro melhor. Contudo, esses pequenos muitas vezes trabalham – como é mostrado no filme – e são absorvidos por diversas demandas as quais, seriam tipicamente referentes à fase adulta, e assim, ser criança deixa de garantir a infância, pois seu ingresso no mundo adulto já foi realizado – pelo menos em alguns pontos importantes.

Agendas cheias e trabalhos intensos e perigosos podem ser os violões evidentes desse “atalho” entre a infância e a adultez, contudo é preciso pensar num sentido mais macro, num sentido mais social e contextualizado, compreendendo em profundidade a razão pelas quais essa realidade é entendida como aceitável e até mesmo incentivada. A criança, nessa confusão de espaço social e valor, acaba sendo vista como algo que pode ser consumido e as realidades acabam de diferentes mundos (adulto e infância) acabam ficando muito parecidos, e isso, gera confusão não só nas crianças, mas nos próprios adultos.

Será que acabaremos roubando a infância das crianças?

 

 

E o pai dessa criança?

 

É um chavão clássico do senso comum: “na psicologia tudo é culpa da mãe!”.

E essa afirmação não está de toda errada, entretanto a primeira correção necessária é trocar a palavra “culpa” por “responsabilidade”; e em segundo, temos que levar em consideração uma figura que fica sempre acaba em segundo plano nessa discussão: o pai.

 

Os pais de maneira alguma são renegados dentro da psicologia, muito menos na psicanálise infantil. Eles ocupam um lugar importante e fundamental no desenvolvimento dos seus filhos, assim como as mães. Entretanto, o que diferencia fundamentalmente essas figuras são os papéis que eles ocupam e o tempo em que vão se colocando na vida das crianças.

 

A figura do pai no primeiro momento de vida dos seus filhos é ser uma espécie de ambiente seguro e acolhedor para a díade mãe-bebê. É ele quem pode garantir que a figura da mãe possa se dedicar tudo o que precisa para esse novo sujeito que está emergindo.

 

Com o tempo, a função paterna vai se ampliando e o pai irá ocupar um espaço cada vez maior na vida da criança.  É ele que ajudará a mostrar o mundo externo para o bebê e introduzir questões importantes que o auxiliarão na organização de sua identidade. O pai cuida do bebê de uma maneira diferenciada e, com isso, apresenta outras possibilidades que compõem a subjetividade do filho.

 

Um ponto que está razoavelmente claro é que, quando essas mães as quais afirmam que “tudo” é culpa delas, nada mais fazem do que reafirmar seus sentimentos de onipotência e fomentar a cultura que o pai ocupa lugar inferior ao delas.